Nas livrarias de todo o Brasil a seção de administração, composta por livros de negócios, finanças e marketing, ocupa grande parte do espaço. Nos estandes expostos à porta de entrada, se avolumam os best-sellers dessas áreas, juntamente das publicações mais recentes. A maior parte deles é escrita por autores estrangeiros, especialmente norte-americanos que, estando em um contexto econômico particular, exalando toda a confiança de quem mora na maior potência do mundo, imprimem suas fórmulas, técnicas e dicas que prometem funcionar invariavelmente. Não estão totalmente errados, essas informações realmente funcionam com uma precisão absurda, mas não no capitalismo tupiniquim. É que os Estados Unidos da América conserva ainda uma certa liberdade de mercado, o sonho americano ainda se mantém em pé, mesmo de pernas bambas, já do lado de baixo do Equador, o socialismo já se infiltrou em toda estrutura.
O estudante ou empreendedor ingênuo, buscando prosperar, lê avidamente essa literatura importada em busca de respostas, e realmente as encontra. Contudo, ele não se dá conta de um simples fator: essas respostas são intrinsecamente ligadas aos contextos daqueles autores. Assim sendo, esse mesmo leitor, quando executa o que aprendeu, fracassa. O problema não está nele, nem nos referidos autores, mas na cultura em seu entorno: os supostos especialistas de negócios, nas universidades, institutos, jornais, e influenciadores, que, por não possuírem formação científica adequada, não sabem perceber, analisar, selecionar e adaptar as informações pertinentes, produzidas em outros países.
As condições brasileiras são diferentes das norte-americanas, desde a estrutura tributária, ao nível educacional do povo, ou mesmo sistema de valores e moeda. No entanto, isso não significa que as leis econômicas válidas nos EUA não valem para o Brasil, que o americano é outro tipo de ser humano, com uma outra lógica. A maior parte dos livros de negócios e marketing, não sendo escrito por economistas, não analisa especificamente essas leis, mas suas manifestações num determinado contexto através da atividade econômica. Em outras palavras, estudam o que e como fazer para se chegar ao sucesso. As leis são as mesmas para todo o mundo, o que difere é o contexto social, cultural e jurídico de cada país. Por exemplo, a lei do valor afirma que quanto maior é o valor de um bem, maior é seu preço, mas não diz nada sobre qual bem é mais valorizado numa dada sociedade, nem sobre sua moralidade ou imoralidade. Essas particularidades dependem da cultura de cada povo. Há países em que o governo tabela os preços, numa tentativa de alterar a lei econômica, como se a caneta do governante pudesse alterar todos os aspectos da realidade. O que ocorre é uma inversão artificial da lei econômica nesse cenário, logo, os bens de maior valor poderão ser encontrados a preços mais baixos, mas não sem um efeito colateral indesejado: a escassez. Porque houve uma redução artificial no preço, os ofertantes não terão estímulos para suprir a demanda, e o bem se esgota. E assim o governo tenta uma nova intervenção, e tudo desanda novamente, ad eternum. Nesse cenário, não adianta apelar nem para o melhor da administração e do marketing.
Toda lei científica parte de pressupostos iniciais bem definidos, geralmente expressada da seguinte maneira:
“Dadas as circunstâncias X, Y e Z, o evento A é prosseguido de um evento B”.
Na Teoria Econômica, que pode igualmente ser sintetizada sob forma de uma lei, não é diferente. Todos os conhecimentos verdadeiros de negócios, finanças e marketing, expostos em livros, artigos e conferências, devem partir de leis econômicas e jamais podem contradizê-las. O que os diferencia é precisamente o contexto inicial da investigação, no qual a lei é trabalhada e desenvolvida até se chegar a uma sequência de passos práticos que funcionam; uma “fórmula”. Se ignorarmos as condições iniciais, não será possível saber os limites da efetividade dessa “fórmula” em nossa própria realidade social.
Um exemplo corriqueiro da ignorância quanto às condições iniciais é a ideia de que poupar gera grande benefício ao indivíduo e ao país. Esse pressuposto é verdadeiro, mas apenas sob certas circunstâncias. Ora, se o intuito é preservar um determinado valor num período de tempo, isso não será possível se um indivíduo o poupar em moeda fraca, cujo valor é erodido ao longo do tempo. Assim, ele causará malefício a si próprio: não transfere aquele valor do presente para o futuro, mas o vê subtraído. Num contexto de perda constante de valor, o melhor a se fazer é gastar.
Quanto aos benefícios de se poupar a nível nacional, isso só será benéfico caso haja um sistema financeiro que permita a transferência da poupança para as mãos dos empreendedores, enquanto ela rende juros ao poupador. Do contrário, o dinheiro apenas sairá de circulação, diminuindo a atividade econômica.
Assim sendo, para que poupar gere grande benefício tanto ao indivíduo, quanto ao país, é necessário:
1) que a moeda preserve valor ao longo do tempo;
2) que haja um sistema financeiro sadio.
Não basta ao empreendedor que deseje sucesso importar conhecimentos estrangeiros, antes, é preciso adaptá-los à nossa realidade brasileira, levando em conta suas particularidades, jamais perdendo de vista aquelas leis econômicas universais, que fundamentam a atividade empresarial. Para tal, ele não está sozinho, deve ― ou deveria ― contar com estudiosos e teóricos da Economia. Analisando a necessidade real brasileira, eu mesma me propus a criar este site. Sem estudos sérios e sistemáticos, voltando-se às bases da Economia, há um desperdício monumental de recursos e, consequentemente, o empobrecimento geral da população. Desse modo, nos resta apenas imaginar um distante “sonho americano”, sem jamais vivê-lo na nossa realidade brasileira.
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